Os Animais e o Dinheiro, de Gonçalo M. Tavares e Os Espacialistas. O espetáculo aconteceu no Rivoli, um edifício que me suscita a ideia de uma monumentalidade em ponto pequeno. Os mármores, as luzes, a polidez, a amplitude dos espaços ainda de quando havia espaço para o espaço por dentro da cidade. Mas o espetáculo. O espetáculo era de um efeito iminentemente físico, corporal, como se fossemos tragados pelas iterações circulares e hipnóticas da máquina. Uma hora de constância, de não movimento num ininterrupto movimentar. O pensamento dá-se à indolência do corpo e tudo o que somos e tudo que o espetáculo é e tudo o que está a ser, fica simbioticamente unificado mitigado expandido à simplicidade de uma coisa maior. Uma hora. Uma hora. Uma hora. Num súbito, explode música devasta o funcionamento da engrenagem, a máquina para como se acordada para uma nova realidade nova consciência do espaço do tempo. E há luz, cor, muito tempo de luz, cor, música, e o corpo novamente se dá ao ritmo e à circularidade, mas, desta vez, em êxtase da adrenalina do orgasmo imprevisto. Há muito a intelectualizar. Mas o que o espetáculo dá de incomum é uma consciência profunda de estar ali num corpo por baixo da inteligência, só em contacto terreno com o que há de físico em nós. Mas talvez seja isso uma forma de intelectualizar a questão.