10 de novembro de 2020

Sinto que a minha escrita atravessa uma fase de mutação, bastante abrupta e contrastante. Tal pode dever-se às novas influências que me entraram, pode dever-se à maturação/imaturação, etc. Sinto-me por isso disperso, irresoluto, aberto e frágil, inseguro.

Há duas abordagens que se reconduzem a duas dúvidas semelhantes: primeiro, posso deixar-me influenciar por novas e díspares correntes estéticas, o que conduz à dúvida da minha adequação; segundo, posso parar, não ler, ler-me apenas, virar-me para mim e ecoar-me no encalço de um místico progresso, mas essa construção de um mundo fechado, e por isso não relativizado, reconduz à dúvida de quem se pensa sofisticar com o seu próprio eco. É sempre a necessidade de pensar holisticamente na estética, permanecendo na fronteira tensa entre o olhar em volta e o olhar para dentro.

2 de novembro de 2020

As obras da casa ao lado amainaram. Da sua fúria restam cacos e pó. Sei ser mais uma trégua passageira, mas em cada uma sinto uma paz infinita (— mas dessa infinitude comunga também o reverso, porque estas obras, estando ainda neste ponto depois de mais de meio ano, certamente durarão para sempre.)

1 de novembro de 2020

Hoje é dia de Todos os Santos. Bastante inclusivo.

Lá fora, pela imagem das janelas, fremem as cores outonais no possível das copas.

Dei com uns morcegos pendurados em algumas portas, montras. Há um estranho e melancólico conforto nas coisas desta época. Na sua inocência.

25 de março de 2020

 


10 de março de 2020