A intolerância não principia nem termina com a negação do diverso. A negação é a expressão fatal, mórbida. Ódio, sim, e, a montante, o medo, também sim. Também já se sabe do estatuto, do reacionarismo, do poder: a obtusa sensação de controlo do real, mas também do irreal em permanente recriação, em profundo devir. Não se pense porém que a intolerância pensa pouco, porque ela é exatamente feita do mais extremo dos pensamentos: obsessão. É um vórtice que vai engolindo continuamente a mesma coisa, a mesma ideia e, desse modo, alimenta-se da mais superna das pobrezas. Em redor o espaço, o tempo, os outros, são inconcebíveis. Estão sem que existam, sem que pensem, sem que escolham. A intolerância é chegar ao fim primeiro e de modo exclusivo. E aí, aonde mais ninguém é capaz de chegar, a luz do progresso fulge nas suas costas, porque defronte vê tão-só o negro vácuo de si mesma.